terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

DARWIN,200

Darwin, 200
ENTRE OS pensadores mais influentes dos séculos 19 e 20, só Charles Darwin sobreviveu incólume ao teste do tempo. Os 200 anos de seu nascimento, comemorados nesta semana, encontram sua reputação em excelente forma. Com efeito, nunca foi tão válida a afirmação do grande evolucionista Theodosius Dobzhansky (1900-1975): "Nada em biologia faz sentido a não ser sob a luz da evolução".

A teoria darwiniana sofreu aperfeiçoamentos, mas seu cerne, a seleção natural, permanece intacto. O mecanismo foi exposto em obra clássica, "Origem das Espécies", que também faz aniversário (150 anos): a diversidade observável nos organismos é fruto da acumulação de incontáveis e discretas características hereditárias que tenham contribuído para a sobrevivência e a reprodução de seus portadores.

Outro pilar da teoria darwiniana: os milhões de espécies de plantas, animais e micro-organismos que vivem e já viveram sobre a Terra descendem todos de um ancestral comum, que surgiu há mais de 3 bilhões de anos. Durante um século e meio reuniram-se inúmeras comprovações empíricas desses princípios. A universalidade do DNA, a substância presente no núcleo das células portadora de hereditariedade, é só uma delas.

É uma ideia poderosa, em sua simplicidade. Os organismos não são como são em obediência a um desígnio superior. Ao contrário, sua diversificação resulta do entrechoque de eventos inteiramente naturais -sobretudo mutações genéticas e modificações no ambiente- ao longo de um tempo muito profundo.

Compreende-se que esse modo de encarar a biosfera torne problemáticas outras explicações para a miríade de formas que povoam o mundo, como as inspiradas na literalidade de textos religiosos. Apesar disso, é possível conciliar o mecanismo da seleção natural com a noção de um Deus que o tenha criado.

O próprio Darwin, ateu ou agnóstico, jamais fez de sua teoria uma arma antirreligião. Essa é a caricatura que dele se construiu nos últimos 150 anos. Deixar-se arrastar por ela não faz jus à grandiosidade de sua visão da vida, que está na raiz do enorme avanço da biologia nas últimas décadas e que tanto fez para dissipar ilusões sobre o lugar da espécie humana no universo.
(Folha de São Paulo, 10/02/2009, pág. A2)

Um comentário:

Magan disse...

Olá,

Acho um tanto quanto precipitado centralizar tanto poder na igreja, é como colocar todo conhecimento num livro e o dar para um analfabeto. Ela segue instintos de auto-preservação de forma descabida para proteger suas crenças. Concordo que geração espontânea pode ser cogitada no caso do Criacionismo, porque nada parte sem ter pelo menos uma base anterior. Nada parte sem ter pelo menos um antecedente, assim como uma folha de papel ficaria eternamente em branco se não fosse quem a escrevesse.

Por mais que fosse só na criação de um átomo e desencadear um efeito dominó disso. Com isso afirmo que cada parte pode ter sua opinião e esta deve ser respeitada, como um básico poder humano. Livre pensar. A igreja muito mais, deve se manter ausente de tais polêmicas, isso além de sujar o nome, atiça os mais conservadores.

Não creio em algo tão etéreo em um mundo que tenha personificação de santos ou em um céu com todas minhas vontades... A eternidade é entediante. Digo pois, se perdemos nosso instrumento de lógica, o cérebro, como é que eu posso manter uma consciência de que terei como aproveitar meu ‘paraíso’?

Vai muito além disso, é como tentar escrever e pensar que uma mão celestial o fará pra gente, isso é utopia e utopia significa de fato, em lugar nenhum. Acreditar isso não leva a nada, é tanta besteira como achar-se toda sua vida numa igreja. Existem a até meios termos que tangem do Evolucionismo que respeitam a do Criacionismo e vice versa.

É impossível, claro, saber o que de fato já aconteceu, mas se ter o máximo de evidências. É muito conhecimento pra seres tão opacos como nós.

Ciao.